ESPECIAL JANIRES
No texto que apresento nesta postagem é de uma matéria extraída da Revista Kerigma,
Ano II Nº 9 do Ano de 1988. Foi compilada por Moisés Di Souza,
Baixista, compositor e vocalista da Banda Azul. O autor é Francisco
Santos (Xyco), que na época era Missionário da Mocidade Para Cristo/BH,
amigo pessoal de Janires e da Banda Azul. É o texto que considero mais completo sobre Janires. As fotos são do CD Tributo a Janires (Som do Céu MPC).
“Rolou o mundo. Percorreu vales de fundos sulcos.
Andou errante, sem grilhões. Morreu livre.
Este foi Janires”.
Estávamos apreensivos!...
Era 11 de janeiro de 1988.
Estranhávamos a ausência do nosso irmão Janires, no primeiro “Clubão” do novo ano.
Os
jovens já estavam todos lá. Superlotavam o local, quase mil pessoas. A
Banda Azul aposta para dar início ao louvor. Havíamos orado momentos
antes, inclusive pelo próprio Janires e pela reunião que em instantes
iniciar-se-ia.
O
relógio marcava 19:30 horas. Tudo estava pronto. A equipe da MPC
atenta. O som ajustado, equalizado. Checamos cada detalhe. A “Tchurma”
toda lá.
Só não sabíamos que o Janires também já estava lá...com o Pai.
Como o fato aconteceu!...
Aconteceu
na madrugada deste dia, uma segunda feira cinzenta, em um trágico
acidente com um ônibus da Útil fazendo o percurso, Rio-Belo Horizonte,
que o nosso amado aportava o céu, com o seu imenso “coração veleiro”.
O
filho mais velho de Dona Luzia, dos dois meninos que tivera, nascido em
22 de maio de 1953 na cidade de Vitória, no Espírito Santo, alçava vôo
“mesmo sem ser de asa-delta”. Havia chegado a hora de “ir embora ,
viajar”.
Por
umas destas ironias que não se busca explicar, posto não ter residido
por muito tempo em seu Estado natal, o Espírito Santo, bem como vitórias
e derrotas, sempre estiveram presentes na sua vida atribulada e
aventurada do nosso poeta. Vez que experimentara bem perto o poder de
Deus em sua vida de andanças. Era um peregrino. Não era mesmo de ficar.
Num bate-papo informal com a irmã Luzia recordávamos as peripécias e lutas do “velho Jajá”.
Detalhes da Infância e Adolescência!...
Logo
aos 7 anos de idade questionava a vida e a sua origem, visto não ter
conhecido seu verdadeiro pai. Não aceitando ou entendendo as explicações
de sua jovem mãe, seus dissabores o levariam a uma estrada tortuosa e
obscura, quando aos 12 anos, passou a “mexer” com drogas. Foi esta a sua
alucinante trajetória até aos 19 anos.
A Prisão!...
Veio
então o cárcere. Ficou preso 2 longos meses. A mãe desesperada
recebendo o auxilio de outra senhora, lutou muito para tirá-lo do
presídio e transferi-lo para o “Desafio Jovem” de Brasília, segundo
orientação daquela mulher.
Com
o apoio do Prof.Galdino, presidente do mesmo, ambos (mãe e filho)
tomaram contato pela primeira vez com o único e suficiente caminho:
JESUS.
Janires
passou a trilhar o caminho, permanecendo ali, no centro de recuperação,
por nove meses. Ganha uma segunda mãe, a Tia Arlete, assim por ele
mesmo considerada. Contou com o amparo especial do Prof. Galdino,a quem
se referia em conversas comigo como o “Capitão Galdino” e de toda a
equipe de obreiros do “Desafio Jovem” de 1973.
Pensando
estar tudo terminado, fato esquecido, vai a julgamento. E, como fruto
amargo, colhido como resultado de sua vida pregressa, é condenado a um
ano de prisão e ao pagamento de 11salários mínimos. Contudo, por uma
decisão de um tribunal superior ao dos Homens, ou de Deus, em um
episódio inusitado, que certo dia me confidenciara, “teve o nome trocado
com o de outro condenado”. Assim ocorrendo sua pena se reverte a ser
cumprida no já conhecido “Desafio Jovem”, retornando pois.
Ali,
ligado à música (aliás, como sempre o fora), começa a trabalhar nos
louvores, compondo suas primeiras canções evangélicas, bem ao seu
peculiar estilo jovem.Transmudava-se em nova criatura.
Ficou lá no “Desafio” chegando enfim, o dia de sair.
A saída da Prisão e as armadilhas!...
Ciladas o esperavam...
Seus “ditos” amigos de “Underground” voltam a procurá-lo.
Ele, presa fácil, novo na idade e na fé, não suporta a “Barra”...e volta as drogas.
Passam-se seis meses...
Mas o pai eterno, em sua infinita graça e misericórdia, não desistira dele.
Por
intermédio da Tia Arlete, assenta no coração dela, que esta deveria
leva-lo para São Paulo. Lá , na igreja liderada pelo Tio Cássio, pode
segurar firme nas mãos de Jesus, sendo acolhido como era.
Nunca mais o deixou!
Como surgiu o Ministério Rebanhão!...
Em
1975, em São Paulo, Janires criou o “Rebanhão”. Sempre pensando em
alcançar a muitos. Pouco tempo depois, mudou-se para o Rio de Janeiro,
continuou com a idéia e visão do Ministério do grupo “Rebanhão”. E, com
isso, dava início a um capitulo a parte, inédito, no que tange a musica
jovem evangélica Brasileira.
Gravou
três LPs e um compacto com o “Rebanhão”. Comemorou dez anos de
conversão gravando o primeiro LP ao vivo da musica evangélica no Brasil
“Janires e amigos”. E, cá pra nós, amigos sempre foi algo que ele soube
ter e fazer, por isso gostava de homenageá-los, registrando em suas
canções e gravações.
A saída do Rebanhão, e a chegada em BH... expectativas de um novo tempo!...
Janires,
contudo, não era de “esquentar banco”; e não se acomodava na inércia de
vitórias já passadas, buscava sempre o novo, a criação. Dizia ele:
“Quem vive de passado é professor de história ou museu”. E nesta época
constante do renovar-se, e graças a Deus, renovando a muitos “apiô do
trem em Belo Horizonte, no arraia da MPC”, logo após fazer a sua
despedida do “Rebanhão”. Chegou aqui com um violão e seu imenso “Coração
poeta”.
Com
a Mocidade Para Cristo, cumpria cabalmente seu Ministério, espargindo
sua influência e liderança em cada filial que visitava ou convite que
aceitava por estes “Brasis” que percorrera, num trabalho incansável,
humilde e verdadeiramente itinerante.
Em
Belo Horizonte deu início a um programa de rádio de 60 minutos de
duração, todo sábado. Programa jovem, evangelístico e musical, “Ponto de
Encontro”.
Gravou e lançou um LP com o mesmo nome deste programa, além de dois compactos com o “Quarteto Vida”.(MPC.BH).
Cantava,
pregava, conduzia o louvor e a adoração a juventude em praticamente
todas as reuniões e eventos promovidos pela MPC, nas temporadas de
acampamentos e especialmente no “Clubão”, de toda segunda feira,
invariavelmente.
Centenas
e centenas de jovens o amavam; e eu podia perceber que os olhos daquela
“moçada” brilhavam ao ouvi-lo cantar e louvar a Jesus Cristo em letras e
ritmos tão contextualizados quanto poéticos.
Liderando a Banda Azul!...
Em
novembro de 1986, antes de uma temporada nos E.U.A, Janires já lançava a
semente daquele que viria a ser seu ultimo grupo musical: A Banda Azul.
Em
companhia de Moisés Di Souza (Baixo), Eduardo Costa (Dubatera), Eduardo
Santos (Duguita) e Guilherme Praxedes (teclados), surge a primeira
musica composta no acampamento de final de ano da equipe da MPC...
“Meninos da Rua”. Com o “Som do Céu”, evento de louvor e pregação
realizado em abril de 87 na praça do Papa, comportando um público
estimado em 15 mil jovens, o trabalho da banda ganhando cada vez mais
solidez e explode com “Canção das Estrelas”. O entrosamento era notório e
melhorava a cada momento, passando a ser uma atração extra a cada
reunião.
Convites começavam a ocupar a agenda, quase nunca bem utilizada, do nosso “Rev. Jajá”.
A primeira Gravação e a mudança do nome!...
Nasce então a idéia da primeira gravação, e assim a antiga Banda MPC, muda de nome: Banda Azul.
Explica ele com seu jeito singular de encarar a vida, que a razão deste nome para a Banda,
“Era porque todos os seus componentes, tinham os olhos azuis” e invariavelmente, um sorriso desabrochava em seguida.
Trabalhou arduamente, ao regressar de uma segunda viagem aos
E.U.A, no novo disco que abriria caminho para a Banda Azul, nunca o vimos tão feliz, alegre e gordo.
O carinho na preparação e o cuidado na elaboração do novo LP já se faziam antever a bela qualidade do esperado lançamento.
Gravara
e entrara nos estúdios de gravação pela ultima vez. Não chegou a ver o
LP pronto. Com a capa e tudo pra ser lançado. Mas, deixava nele o
essencial: seu talento, sua voz, suas músicas, suas inimitáveis letras,
sua poesia.
“Espelhos Nos Olhos”, já era histórico antes mesmo de ser lançado.
Janires
Magalhães Manso, um incansável servo de Deus. Tinha muito planos e
projetos para a Banda Azul, que tenho certeza, saberá cumpri-los como
herança de seu “Band Líder” e irmão mais velho.
Reconhecimento!...
Seu
talento nato, dom de Deus, num misto de músico, poeta, repentista e
pensador moderno, ainda que registrado em discos e fitas, por certo
deixou aguda saudade e imensa lacuna.
Poucos,
muito poucos mesmo, souberam como ele empunhar a bandeira da
“avant-garde” sendo ferido, muitas vezes, e sem ferir. Pelo contrário.
A Despedida no Funeral em Brasília!...
As
palavras do irmão Alex Dias Ribeiro, bem como o testemunho dos irmãos
que estiveram presentes ao seu sepultamento (Marcelo Gualberto MPC,
Carlinhos Felix do Rebanhão, Pr. Ricardo Barbosa de Brasília, Prof.
Galdino, D. Luzia sua mãe, ...e tantos outros) e toda a Banda Azul e
obviamente (que lá tocou), corroboram esta realidade: “Seu funeral na
Igreja Nova Vida, em Brasília, foi uma das coisas mais lindas,
emocionantes e alegres que já vi”.
Ao
completar 32 anos, irmã Luzia o procurou perguntando-lhe se gostaria de
conhecer o pai, agora que ela o encontrara; respondeu ele: “Minha
família é aquela que nasce a cada manhã”.
Agora esta família sente saudade do irmão, amigo e Artista.
Mas ele já esta lá!...Junto com Sergio Pimenta, o Jayrinho e os outros tantos amados num “Clubão” que não tem mais fim.
Fonte: http://presentiaonline.blogspot.com.br